Síndrome de Williams na Conquista pela Independência
Del Cole, C. G. & Moura, L.M 2010
O que é Síndrome? O que é ser normal? E o que é ser diferente? Se é difícil educar uma criança dita como “normal”, imagina educar uma criança especial? Qual a diferença? Como se faz? Então, vamos lá…
Síndrome é um conjunto de características físicas, comportamentais, emocionais e intelectuais semelhantes que aparecem em diversos indivíduos que não necessariamente são parentes. A síndrome de Williams, por exemplo, apresenta características faciais típicas, complicações cardíacas e renais, hipercalcemia infantil, deficiência intelectal, perfil cognitivo único, personalidade incomum, e habilidades de linguagem.
Assim, uma síndrome não é sinônimo de doença. A criança pode ter um bom desenvolvimento, se aproximando muito do “ser normal” e do “ser” que seus pais sempre sonharam. Afinal, quem não tem suas próprias dificuldades no dia-a-dia? Seja para administrar dinheiro, fazer compras, se relacionar com familiares, amigos ou colegas de escola ou trabalho…
Cada ser humano é único e apresenta tanto habilidades quanto dificuldades, mas, sempre podemos melhorar buscando maior desenvolvimento, seja com ajuda familiar, terapêutica, de educadores, comunidade e outros. Além disso, cada indivíduo tem seu próprio tempo de aprendizagem, mas, um fator determinante nesta conquista, é a crença das pessoas que o cerca sobre o que aquele ser humano pode ser capaz de fazer, as chamadas expectativas. Elas recaem sobre coisas simples ou complexas (depende do seu ponto de vista) como: compreender o que é dinheiro e saber comprar com ele, preparar uma refeição, trocar de roupas sozinho, limpar a casa, atender ao telefone, trabalhar, ter responsabilidades, namorar e outros.
Neste contexto de desenvolvimento de múltiplas habilidades, a negligência dos pais quanto a estas questões é sempre inapropriada e dificulta as conquistas para qualquer criança. Entretanto, a “super-proteção” também pode ser um empecilho para o desenvolvimento psicosocial de qualquer ser humano.
Quais são os pais não sentem medo quando seu filho pega ônibus pela primeira vez sozinho? Quando vêem o filho começando a usar o fogão sozinho? Quando percebem que a sexualidade está aflorando? É natural sentir medo de perder o controle, especialmente sobre os filhos.
O medo é comum, é normal, e faz parte do processo de educar, mas, privar alguém de aprender e de se desenvolver é negar-lhe o direito de se auto-cuidar, de ter autonomia e independência de sua própria vida, além de podar possibilidades de suas próprias conquistas. Assim, é anormal não se abrir para a autonomia que os filhos com síndrome ou não naturalmente virão a ter, porque viver significa medir riscos, mas, para conhecer perigos, é necessário se expor a eles, mesmo que de maneira controlada.
A síndrome de Williams é bastante peculiar quanto a isto. Porque como bem sabemos, os Williams são amigões, adoram o contato com as pessoas e isto nos impõem o medo de serem de alguma forma molestados. No entanto, apesar de algumas dificuldades, estas pessoas tem muitas habilidades de aprendizagem, só precisam ser compreendidas para serem bem utilizadas. Estas habilidades podem ser usadas com paciência para lhes ensinar regras, as quais eles podem aplicar em vários contextos e então, ganhar a tão sonhada autonomia.
Pare para refletir um pouco:
O que as crianças aprendem na escola? Somente conteúdos? A escola devia ser a micro-sociedade que ensina não somente conteúdo, mas, desenvolve inúmeras habilidades, o que é um papel árduo para bons professores. Na escola, a criança deve aprender limites, deve aprender o que é liberdade e o que é responsabilidade, isto resulta em autonomia e respeito ao próximo. Numa sala de aula com crianças ditas “normais”, isto é tarefa de gigante, pois, não é nada fácil ensinar estas regras de convivência. E é um trabalho árduo em casa também, afinal quem nunca viu um adolescente que não quer ir tomar banho? Não é diferente para as crianças com síndrome de Williams, o trabalho é mesmo com uma dose maior de empenho e de estratégia. No fundo, estamos todos no mesmo barco, na difícil, porém, prazerosa tarefa de criar independência.