A PERCEPÇÃO DE MELODIA E RITMO NAS PESSOAS COM SÍNDROME DE WILLIAMS

por HENRIQUE DE CARVALHO VIVI

zzzzimagelProjeto apresentado à disciplina Metodologia da Pesquisa em Musica (HM701), do curso de Pós- Graduação em Música, Departamento de Artes, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná Orientador (a): Valéria Lüders

CURITIBA – PARANÁ 2010 Índice 1. Introdução    3 2. Revisão de Literatura    7 3. Metodologia    12 4. Cronograma    15 5. Referências    17 1. Introdução

O processo de cognição e percepção musical é um leque vasto, pois, uma vez que o ouvinte é exposto a este material, ele primeiro: há de compreender o que está ouvindo; e segundo, ele aprecia o que ouve. Segundo as palavras de SLOBODA, “cognitivo […] e afetivo” (1985, p.3); tais subjetividades de cada fase dependem de cada pessoa, personalidade, humor, etc.. Tal processo de percepção pode ser válido se aplicado à Educação Musical; como por exemplo, avaliações globais utilizando um repertório de fácil acesso e suas respostas avaliadas em caráter semi-aberto.

O processo de cognição e afetividade em música não pode ser considerado habilidades restritas a pessoas com vivência em música (compositores, estudantes, instrumentistas, etc.). Pessoas leigas também possuem tal habilidade, apesar de que com níveis menores de discernimento e exposição, em palavras, do que foi percebido ou apreciado (ibid., 1985, p.5). Isso não significa que pessoas leigas não venham a desenvolver tal habilidade, bem como vir a atribuir uma habilidade que antes lhe era desconhecida, ao estudar, apreciar, tocar música, etc. LEVITIN, por exemplo, levanta a questão de que há pessoas com habilidades de ouvido absoluto e não são musicais, pois não têm vivência com música, não tocam um instrumento, ou não são estudantes de música (2006, p.28); o que pode ser levado como uma premissa que certos parâmetros musicais possam ser discernidos igualmente por pessoas leigas e “musicais”.

Se todas as pessoas possuem tais premissas, este projeto trabalhará com um grupo especial de pessoas com uma disfunção cognitiva, que têm a Síndrome de Williams-Beuren, ao qual (além de suas características genéticas, físicas, e parâmetros de fenótipo semelhantes) apresentam algumas características distintas, tais quais: expressão e comunicação; e também sua sensibilidade aos sons. Independente de suas características auditivas, a pouco estudada síndrome já obteve resultados satisfatórios em laboratório aos quais pessoas podem aproveitar tal característica musicalmente (LEVITIN, 2005, p.8). Não confundir tal idéia a um “facilitador” musical que este grupo especial viria a possuir desde nascença; este trabalho não procura explicar que todas as pessoas com Williams terão facilidade para aprender música. Mas, se as pessoas deste grupo apresentam um cérebro que por suas disfunções genéticas “processa informações de uma maneira diferente” (ibid., 2005, p. 514), há de se utilizar estes atributos para potencializar qualquer avaliação em música; seja de aprendizagem de instrumento, seja de percepção musical, entre outros.

Este trabalho então visa analisar e comparar, por meio de testes de percepção musical e repetição por execução, as respostas em caráter semi-aberto das pessoas com Síndrome e Williams, no intuito de desenvolver e potencializar uma maior vivência com a música, como meio para inclusão social. Além disso, a pesquisa procurará ser uma fonte para estudos futuros, visto que não há estudos recentes que falam sobre educação musical e Williams no Brasil.

Para tal, serão usadas fontes bibliográficas de Sloboda, Gordon e outros autores que trataram da cognição musical; além de fontes de Williams, Beuren, Levitin, Bellugi, Sacks, Valtierra, Lenhoff e outros no âmbito da Síndrome de Williams. Como o levantamento bibliográfico ainda está sendo feito, podem aparecer mais textos de outros autores que não estão listados aqui e poderão ter bastante importância para a elaboração do corpo de texto, ou até mesmo no método. Uma síntese dos capítulos ainda não foi planejada em ordem. O que é certo é discorrer sobre a Síndrome de Williams, suas características genéticas, físicas, neurológicas e cognitivas, além de dar uma maior ênfase para suas características auditivas. A pesquisa procurará fazer um levantamento do que já foi publicado em Síndrome de Williams e Música, como base para as atividades que serão elaboradas no método. Também a pesquisa pretende comentar sobre a inclusão das pessoas com Williams, pois ela têm um papel importante nos objetivos, listados a seguir. Objetivo geral A pesquisa pretende verificar se as pessoas com síndrome de Williams são capazes de perceber, discernir e diferenciar elementos musicais de melodia e ritmo, como forma de ampliar suas capacidades musicais como meio para a inclusão social. Objetivos específicos São objetivos da pesquisa proposta: – Verificar se as pessoas com Síndrome de Williams são capazes de perceber e discernir aspectos de melodia, segundo a teoria musical ocidental. – Verificar se as pessoas com Síndrome de Williams são capazes de perceber e discernir aspectos de ritmo, segundo a teoria musical ocidental. – Analisar a ampliação do universo musical das pessoas com Síndrome de Williams, se utilizando da linguagem não da teoria musical, mas da prática, utilizando instrumentos musicais ergonomicamente adequados, como caráter inclusivo na sociedade. Justificativa A recente estudada síndrome de Williams é carente de fontes bibliográficas no que diz respeito à educação musical destas pessoas no Brasil. O interesse pelo projeto e sua temática se deu inicialmente na graduação, quando foi escrito a monografia com o título “A percepção musical na síndrome de Williams sob a ótica do modelo espiral de desenvolvimento musical de Swanwick e Tillman”, como objeto de estudo de pessoas deste grupo em um contexto brasileiro se utilizando de métodos de apreciação musical elaborados por Swanwick e Del Ben. A experiência da pesquisa em campo e seus resultados levou à premissa de que as pessoas com Williams podem desempenhar um papel ainda mais eficiente no aprendizado de música, não só com apreciação musical, mas também à percepção musical e solução de problemas em que envolvem noções teóricas da música, como elementos musicais. Tal método então precisa ser adaptado às pessoas com Williams, visto que certas limitações cognitivas lhe impediriam de ter êxito em um teste aplicado copiado de qualquer outro que não tenha sido feito para este grupo. O ideal para atingir os objetivos e alavancar as possibilidades que as pessoas com Williams têm pela música é então aplicar uma metodologia muito bem traçada e planejada visando todas suas características.

Então, o projeto, sua pesquisa e seus resultados possam ter contribuições de importâncias científicas relevantes, tais quais:

– O ensino de música para as pessoas com Síndrome de Williams. Se sua sensibilidade auditiva pode ser utilizada como um facilitador para fins de aprendizado de música, mas sua condição intelectual possuem particularidades no campo visual-espacial (como a leitura), a pesquisa deste projeto influirá em um meio para a educação musical neste grupo especial por meios que não tradicionais. Por exemplo, não poderiam ser usadas partituras, escritas teóricas, etc., e sim procurar transcrever suas respostas indiretas ou elaborar exercícios de percepção e repetição.

– O funcionamento cognitivo em música neste grupo de pessoas. O fato de o funcionamento e processamento de informações no cérebro destas pessoas serem particularmente diferentes traz uma gama de possibilidades com as quais um projeto como este levantará. Em âmbito nacional, aparentemente pouco é encontrado envolvendo música e Síndrome de Williams, então, uma pesquisa como esta trará resultados válidos.

– O caráter inclusivo que esta pesquisa trará para a educação especial. Não é caráter da pesquisa apenas caracterizar e padronizar as limitações das pessoas com Williams. Pelo contrário, a pesquisa pretende, em uma visão macro, mostrar o como a educação musical para estas pessoas pode ser muito válida para sua inclusão na sociedade.

2. Revisão de Literatura A Síndrome de Williams, também conhecida como Síndrome de Williams-Beuren, foi pela primeira vez diagnosticada pelo cardiologista John C. P. Williams et. al., em 1961, na Nova Zelândia (WILLIAMS et. al., 1961, p. 1317). Alguns anos mais tarde, em 1962, Alois Beuren et al., na Alemanha, diagnosticou um grupo de pacientes com os mesmos sintomas (BEUREN et al., 1962, p. 1239). Por esta razão, a síndrome é atribuída com ambos os nomes. Alguns estudos procuraram verificar a incidência das pessoas com a Síndrome, e os números variam de 1 para 7.500 pessoas até 1 para 20.000 pessoas (VALTIERRA, 2008, p.95; LEVITIN et. al., 2004, p.224)

A Síndrome de Williams é de origem genética, decorrente de um erro de cruzamento de genes durante a mitose, havendo assim a exclusão de 26 a 28 genes no par de cromossomos 7 (ibid., 2008, p.95). Vale lembrar que esta origem não é congênita, ou seja, não é resultante de alguma ação na gravidez por parte da mãe ou por algum outro quadro na família. Assim sendo, a Síndrome de Williams não distingue cor, raça, sexo, e não há nenhum estudo relacionado à maior incidência de local. A única certeza, pelo ponto de vista biológico, é que haverá a probabilidade da criança nascer com a Síndrome de Williams se os pais também já têm a síndrome.

Os genes do par de cromossomos 7 deletados são responsáveis pela produção de alguns aminoácidos, reconstituição de algumas células, e mais importante, pela produção da elastina. O déficit da produção de elastina na exclusão destes genes, como conseqüência, define boa parte do fenótipo comum às pessoas com Síndrome de Williams, como será abordado mais adiante. Apesar de estes estudos terem sidos publicados há aproximadamente cinqüenta anos, os estudos sobre a Síndrome de Williams, ou SW, são recentes. Com o tempo foi possível realizar diagnósticos mais precisos para identificar se a pessoa possui ou não Síndrome de Williams. Até hoje, os quadros clínicos nem sempre são base para estes diagnósticos, pois algumas características físicas, psicológicas, cognitivas, etc., podem variar de pessoa para pessoa, pois talvez isto possa ser explicado pela não precisão de exatamente quantos genes são deletados no par de cromossomos 7, ou seja, ele varia de 26 a 28 genes. Por variar o número de genes deletados naquela região, os resultados fenótipos das pessoas deste grupo também variará, porém, ainda faltam estudos para comprovar tal hipótese.

Após alguns anos de estudos, foi possível determinar uma maneira de diagnosticar a síndrome de maneira mais eficiente, que é com o teste do FISH, também chamada de “hibridação fluorescente in situ”   (SUGAYAMA et. al., 2003, p. 468). Este teste verifica a seqüência de genes nos cromossomos e consegue sondar a ausência do gene da elastina, que é a principal característica da SW, e tem uma eficácia de aproximadamente 90%  . De qualquer maneira, alguns estudos já identificaram quadros clínicos, e não só moleculares, que ocorrem na maioria dos casos, como será relatado a seguir.

Estudos recentes procuraram associar a SW com a síndrome de um duende •. Esta associação ocorre por uma das características das pessoas com SW é ter as linhas de rosto semelhantes a um duende, ou seja, nariz empinado, boca larga, queixo pequeno, olhos arredondados, além da estatura baixa (SACKS, 2007; p.303).

As pessoas com Williams também apresentam problemas cardiovasculares, apresentando a Estenose Aórtica Supravalvar . Esta estenose, também chamada de SVAS, acontece em cerca de 75% dos casos das pessoas com Williams, em que há uma anomalia conseqüente dos estreitamentos dos vasos arteriais (MORRIS, 2010, p. 6).  Então, este estreitamento pode causar problemas renais, intestinais, além de pressão arterial constantemente elevada, dificuldades respiratórias e pulmonares, entre outros. As pessoas com SW podem também apresentar anormalidades urológicas, em um aumento da freqüência urinária, e problemas endócrinos, incluindo hipercalcemia, hipotireodismo, problemas ortodônticos e diabetes em alguns adultos . Também podem apresentar estrabismo e íris estreladas, apesar de estes dois últimos não ocorrerem com tanta freqüência considerando as outras características físicas.

As pessoas com a Síndrome de Williams apresentam um atraso motor e um “deficiência intelectual geral ou global” (SACKS, 2007, p. 307). O cérebro das pessoas com SW é relativamente menor, como observado por Sacks, podendo chegar a ser 20% menor (ibid., 2007, p. 314). Vale ressaltar que não é o cérebro todo que é relativamente menor, algumas áreas são, já outras, mantém o tamanho preservado. Ainda não há estudos neurológicos o bastante para revelar exatamente quais áreas são responsáveis por quais quadros na SW, porém, Levitin et. al. procuraram investigar, por meio de um exame de ressonância magnética, que as pessoas deste grupo utilizam partes do cérebro funcionando para certas ações aos quais não acontecem em pessoas que não têm SW. Segundo os autores, estas pessoas “[…]ainda apresentam oportunidades de cobrir bases de comportamentos cognitivos complexos, e em particular, começar a fazer a ligação entre os genes, neurodesenvolvimento, cognição e comportamento” (LEVITIN et. al., 2005, p.514).

As pessoas com SW possuem, em sua maioria, uma dificuldade visual-espacial (VALTIERRA, 2008, p. 96). Alguns estudos comentam a dificuldade que estas pessoas podem ter para representar graficamente, como por exemplo, desenhando. Além disso, sua capacidade de leitura é limitada, e pode haver uma grande dificuldade ao realizar simples questões aritméticas (BELLUGI, et. al. apud. LEVITIN et. al., 2004, p.225). Apesar destas características, as pessoas com a SW apresentam certas funções visuais bem preservadas. Algumas pessoas conseguem distinguir e reconhecer expressões faciais com muita facilidade (VALTIERRA, 2008, p.96). Este contraste no campo visual espacial é uma das curiosidades ao qual este fenótipo complexo se apresenta, e merece mais estudos.

Levando em conta os quadros psicológicos e comportamentais, as pessoas com SW em geral são bastante ansiosas (LEVITIN et. al., 2003, p.75). Elas normalmente possuem um comportamento hipersocial, são desinibidas, procuram ser bastante comunicativas e fazem um bom uso do vocabulário (SACKS, 2007, p. 308-9). Também tem um bom domínio da linguagem, se utilizando de palavras, semânticas, sinônimos, etc. de maneira forte e independente (ibid., 2007, p. 308). VALTIERRA procura associar a característica da falta de inibição pelo tamanho relativamente menor da Amídala Cerebelosa (2008, p.97), localizada no cérebro e que é responsável por regular a agressividade . SACKS procura associar a linguagem e outras funções cognitivas que “[…] podiam, em termos gerais, ser explicadas pelo tamanho avantajado e pelas ricas redes neurais dos lobos temporais” (2007, p.314).

Alguns estudos sobre SW procuraram associar as pessoas deste grupo e uma anormal relação com os sons. Esta relação não foi sempre diagnosticada pela comunidade científica, pois se verifica que o estudo envolvendo SW e sons são recentes. A princípio, esta relação com os sons foi chamado de hiperacusia, como uma tradução do termo inglês hyperacusis.

O termo se refere à disposição que o ouvido das pessoas com SW possuem de ouvir com mais sensibilidade todos ou grupos de sons (HAGERMAN, 1999; KLEIN, ARMSTRONG, GREER E BROWN, 1990; MARTIN, SNODGRASS E COHEN, 1984; NIGAM E SAMUEL, 1994; UDWIN E YULE, 1991 apud. LEVITIN et. al., 2005). Porém, o termo ficou vago por não especificar exatamente quais grupos de sons, e se esta sensibilidade era determinada pela freqüência, altura, dinâmica, timbre, etc. Então, verificando a necessidade de aprofundar este fenótipo, um estudo envolvendo vários indivíduos com SW procurou padronizar este quadro. Segundo LEVITIN et. al. (2005, p.516), as pessoas podem apresentar:

  • Hiperacusia, como uma habilidade de ouvir sons distantes, em freqüências baixas, que um ouvido de uma pessoa que não tem SW não ouviria;
  • Odinacusia, como uma sensação de dor e/ou desconforto a certo som;
  • Alodinia Auditiva, como uma aversão ou medo de um som, e;
  • Fascinação Auditiva, como uma atração ou admiração por um certo som.

Vale lembrar que o que determina estes quadros varia de pessoa para pessoa, suas vivências, etc.. Estes quadros não são únicos, a pessoa com SW pode apresentar mais de um quadro (ibid., 2005, p.519). A origem desta relação ainda não é claramente explicada. O estudo que envolveu as pessoas com SW e o funcionamento do cérebro ao ouvir música pela ressonância magnética procuraram dar base a este conhecimento. Ao observar e analisar o cérebro das pessoas com SW se concluiu que: “[…] os participantes com SW mostraram ativações mais variadas e difusas por todo o cérebro, […] além de fornecer novas e convergentes evidências que a sua organização neural pode diferir das pessoas ditas normais”   (LEVITIN et. al., 2003, p.81).

O funcionamento neurológico não parece ser também o único elemento que caracteriza este quadro auditivo das pessoas com SW; lembrando que a elastina é responsável pela construção de órgãos internos, talvez a construção do ouvido e o aparelho auditivo das pessoas com SW sejam diferenciados, o que também caracterizaria este quadro auditivo. Porém, não há estudos relacionados a esta área que comprovem esta hipótese.

Os estudos também procuram ligar estas características das pessoas com SW ao ouvir música. As pessoas com SW tendem a mostrar sensibilidade e expressar sentimentos como alegria ou tristeza através da audição de música, além de ter sensações como aversão, medo ou admiração por certos sons musicais, instrumentos musicais, ou peças inteiras (LEVITIN et. al., 2004, p. 225-6). As pessoas deste grupo tendem a ouvir música por mais tempo (ibid., 2003, p.74. O mesmo estudo com ressonância magnética também verificou a maior ativação cerebral das pessoas com SW quando foram estimuladas ao ouvir música (LEVITIN et. al., 2003, p.79;), e pessoas com SW parecem ter mais interesse em música (ibid., 2004, p.226)

SACKS procura relatar o como as pessoas com SW mostram um interesse em tocar um instrumento musical ou aprender a cantar músicas em outros idiomas, de outras culturas (2007, p.310), além de reproduzir padrões musicais com mais facilidade (p.311). Tal relação pode ser explicada pelo paralelo que a música tem como linguagem, parte do cérebro preservada das pessoas com SW, e são responsivas à música em um nível emocional (p.312)

Partindo destes dados de SW e música, algumas questões tendem a aparecer. Nem todas as pessoas com SW são sensíveis à música e mostram um maior interesse por peças musicais, sons musicais, etc. Não há nenhum dos estudos que indiquem que 100% das pessoas com SW sejam musicais. Também, não há nenhuma incidência de habilidade musical nata, que seja convertido em aprendizagem de um instrumento musical, etc., ou seja, há casos em que a pessoa com SW procura no canto ou na aprendizagem de um instrumento musical expressar a sua facilidade com a música, mas isso não acontece em todos os casos. Pode haver pessoas com SW que tenham interesse por música, porém, não estejam predispostas a tocar um instrumento musical. Ou ainda, pode haver a pessoa com SW que não tenha interesse nenhum por música, apesar de apresentar um ou mais de um dos quadros auditivos listados. Também pode acontecer da pessoa que seja diagnosticada com SW e não tenha o quadro auditivo peculiar às pessoas deste grupo. Vale então fazer a reflexão de como é introduzida a música na vida das pessoas com SW que possuam os quadros auditivos. Se, em nenhum momento, esta pessoa tem exercícios de musicalização, aulas de educação musical, ensino de um instrumento, ela poderá exibir uma facilidade para a música?

Neste projeto, a idéia de que um ensino apropriado de musicalização a pessoas com SW funcione como uma ponte para se expressar musicalmente, ter um interesse pela música e se sentir incluída é viável. Por isto esta pesquisa também trata de colocar a importância no caráter inclusivo das pessoas com SW.

3. Metodologia Por se adequar à proposta desta pesquisa, a metodologia trabalhada será a pesquisa-ação, de Thiollent. Segundo o autor: “[…] a pesquisa ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo” (THIOLLENT, 2005, p.16) A interação que é necessária para atingir os objetivos então parte desta participação das pessoas envolvidas, bem como as tomadas de decisões para tal. Thiollent coloca que esta participação “[…] absolutamente necessária” (ibid., 2005, p.17). A maneira como a pesquisa empírica será aplicada ainda não está definida, visto que se pode não haver condições para viajar constantemente para fora da cidade onde estão as pessoas entrevistadas. Por isso, até a definição de como será planejada estes encontros, entrevistas em um período estabelecido, primeiro, é necessário saber qual será o grupo trabalhado, ou seja, se as pessoas com Williams participantes estarão em Curitiba e região metropolitana, se estarão em outras cidades do estado, ou até mesmo fora do estado do Paraná.

De qualquer maneira, as etapas já estão em fase de criação, sabendo que:

  •  Uma das etapas envolverá a compreensão de melodia e de ritmo da música, por exercícios de apreciação e percepção. Uma segunda etapa procurará fazer a compreensão dos elementos musicais através de exercícios de repetição e execução, mas a criação poderá ser introduzida nesta etapa. Se necessário, uma terceira etapa procurará avaliar a compreensão dos elementos não só pela execução musical, mas também pelo o que os entrevistados expressarão, afinal, nem toda pessoa com Síndrome de Williams é esperada executar plenamente sem erros alguma frase musical, mas também sua capacidade de expressar com facilidade pode ser uma ferramenta auxiliadora na avaliação e análise dos resultados.
  •  É certo que as pessoas entrevistadas darão respostas instintivas e indiretas, porém, que sejam respostas que compreendam os objetivos supracitados. Mas vale lembrar que o ponto determinante para a avaliação dos resultados será a percepção das pessoas com Williams.

Categorias de análise

Como já comentado acima, as categorias de análise serão a apreciação, percepção e execução, havendo uma ênfase maior na percepção, pois ela é crucial para a execução acontecer com eficácia. Então o planejamento na pesquisa empírica terá que ser guiada por estes eixos norteadores.

Nesta pesquisa, serão adotadas as definições de melodia e ritmo segundo as características do som na música, ao qual são definidas por MED da seguinte maneira: “Melodia, como um conjunto de sons dispostos em ordem sucessiva (concepção horizontal da música), […] Ritmo como ordem e proporção em que estão dispostos os sons que constituem a melodia e a harmonia.” (1996, p.11). Então, estes elementos estão intricados com características do som, sejam elas vibrações regulares ou irregulares, como altura e duração.

Harmonia e timbre não serão abordados nesta pesquisa, pelo fato de que incluir estes elementos na avaliação iria demandar uma análise muito mais extensa e resultados podem apresentar variabilidades ou discrepâncias que não auxiliariam no objetivo geral. Ainda não há estudos envolvendo qual elemento musical a pessoa com Síndrome de Williams consegue perceber melhor, porém, esta pesquisa pode ajudar estudos futuros.

Até o momento não se foi planejado totalmente como funcionará as entrevistas ou atividades que podem envolver divisão por aulas. Um estudo procurou aplicar testes para pessoas com Williams utilizando as “Medidas Primárias de Audição Musical” de Gordon (DON et. al. apud. LEVITIN et. al., 2004, p.225), mas os resultados não foram os esperados, pois o teste não foi criado para este grupo, e sim para pessoas que não possuem Síndrome de Williams. Então, uma atividade padrão ou testes padrões poderiam prejudicar os resultados, e conseqüentemente, os objetivos da pesquisa.  Porém, é importante destacar que as atividades serão planejadas e introduzidas após o domínio da etapa anterior pela Síndrome de Williams. O tempo necessário para tal ainda está em planejamento.

Instrumentos de coleta de dados para os testes também não estão estabelecidos, acredita-se que a pesquisa bibliográfica mais aprofundada trará melhores diretrizes para a pesquisa de campo, e assim, ter uma melhor abordagem. O que se têm como indicadores são testes envolvendo a percepção musical utilizando repertório já existente (e não fragmentos sonoros), e o discernimento de caráter distinto se baseando apenas por música neste grupo especial (com repostas de caráter semi-aberto e também por visualizações do problema a ser resolvido). Com os resultados da amostra, análise e conclusão esperam-se chegar os indicadores estabelecidos nos objetivos específicos, e consequentemente, validar o objetivo geral.

Grupo participante O grupo escolhido para esta pesquisa são pessoas diagnosticadas com Síndrome de Williams, adolescentes com idade entre 12 a 19 anos. A faixa etária escolhida não precede nenhum estudo ao qual diria que nesta idade a percepção ou respostas serão mais eficazes, afinal, os estudos neste sentido são limitados. Alguns estudos comentam sobre o como a idade das pessoas com Síndrome de Williams não altera sua característica cognitiva (LEVITIN et al., 2004, p.233; VALTIERRA, 2008, p.96). Apesar disso, um estudo anterior utilizando pessoas com Síndrome de Williams no Brasil e percepção de produtos sonoros revelou maior atenção e respostas mais precisas por parte dos entrevistados que já eram adolescentes ou estava na fase adulta (VIVI, 2007, p.25).

Além disto, o grupo será selecionado por pessoas que não tiveram aulas prévias de música ou musicalização. Por acreditar que as pessoas que já tenham tido, ou estejam freqüentando uma aula de música ou musicalização iria influenciar uma resposta aos elementos que poderiam não ser genuínas, ao filtrar estas pessoas, a pesquisa mostraria resultados mais satisfatórios para análise. Este fato é colocado em voga quando se trata de discutir se as pessoas com Williams possuem uma facilidade para música no Brasil.

4. Cronograma O cronograma envolvendo os dados a seguir não é fixo, dependendo de como a pesquisa evoluir, eles podem variar. Então, pretende-se seguir o seguinte:

Agosto / 2010 – Levantamento bibliográfico – Levantamento de metodologia – Levantamento de grupo participante. Setembro / 2010 – Elaboração da tese – Levantamento bibliográfico Outubro / 2010 – Elaboração da tese – Levantamento bibliográfico Novembro / 2010 – Elaboração da tese – Levantamento bibliográfico Dezembro / 2010 – Elaboração da tese – Levantamento bibliográfico Janeiro / 2011 – Elaboração da tese – Levantamento bibliográfico Fevereiro / 2011 – Elaboração da tese – Levantamento bibliográfico Março / 2011 – Elaboração da tese – Levantamento bibliográfico Abril / 2011 – Elaboração da tese – Levantamento bibliográfico – Aplicação das entrevistas e da pesquisa empírica Maio / 2011 – Aplicação das entrevistas e da pesquisa empírica (podendo não ser necessária se já realizada em abril) – Coleta de dados Junho / 2011 – Coleta de dados – Análise dos resultados – Elaboração da discussão e conclusão Julho / 2011 – Análise dos resultados – Elaboração da discussão e conclusão – Entrega da pesquisa para qualificação e primeira avaliação da banca. Agosto / 2011 – Correções e ajustes da tese. Setembro / 2011 – Correções e ajustes da tese. Outubro / 2011 – Correções e ajustes da tese. Novembro / 2011 – Apresentação da tese para avaliação da banca examinadora.

5. Referências

LEVITIN, Daniel. Em busca da mente musical IN ILARI, B. (org.). Em busca da mente musical: ensaios sobre os processos cognitivos em música – da percepção à produção, Curitiba: Ed. da UFPR, 2006. p. 23-44. MED, Bohumil. Teoria da Música, Brasília: Musimed, 1996. SLOBODA, John. The Musical Mind: the cognitive psychology of music. New York: Oxford University Press, 1985. LEVITIN, Daniel; COLE, Kristen; CHILES, Michael; LAI, Zona; LINCOLN, Alan; BELLUGI, Ursula. Characterizing the Musical Phenotype in Individuals With Williams Syndrome, Child Neuropsychology. Londres, volume 10, n°4, p. 223-147, 2004. LEVITIN, Daniel; COLE, Kristen; LINCOLN, Alan; BELLUGI, Ursula.  Aversion, awareness, and attraction: investigating claims of hyperacusis in the Williams syndrome phenotype. Journal of Child Psychology and Psychiatry. Oxford e Malden, volume 46, n°5, p. 514-523, 2005. LEVITIN, Daniel; MENON, Vinod; SCHMITT, J. Eric; ELIEZ, Stephan; WHITE, Christopher; GLOVER, Gary; KADIS, Jay; KORENBERG, Julie; BELLUGI, Ursula; REISS, Alan.  Neural Correlates of Auditory Perception in Williams Syndrome: An fMRI Study. Neuroimage. Volume 18, p.74-82, 2003. VALTIERRA, Stephanie. Williams Syndrome: The Costs and Benefits of Chromosomal Deletion IN Eukaryon, Lake Forest, vol. 4, p. 95-100, março de 2008. VIVI, Henrique. “A percepção musical na Síndrome de Williams sob a ótica do modelo espiral de desenvolvimento musical de Swanwick & Tillman”, Curitiba: UFPR, 2007. SACKS, Oliver. Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. WILLIAMS, John; LOWE, J.; BARRAT-BOYES, B. Supravalvar Aortic Stenosis; Circulation. Dallas, volume 24, p. 1311-1318, dezembro de 1961. BEUREN, Alois; APITZ, J.; HARMJANZ, D.  Supravalvar Aortic Stenosis with Mental Retardation and a Certain Facial Appearance; Circulation. Dallas, volume 26, p.1235-1240, dezembro de 1962. SUGAYAMA, Sofia; MOISÉS, Regina; WAGËNFUR, Jaqueline; IKARI, Nana; ABE, Kikue; LEONE, Cláudio; SILVA, Clóvis; CHAUFAILLE, Maria de Lourdes; KIM, Chong.  Williams-Beuren Syndrome. Cardiovascular Abnormalities in 20 patients diagnosed with Fluorescence in Situ Hybridization. Arq Bras Cardiol. São Paulo, volume 81, nº5, p. 468-473, 2003. THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez Editora. MORRIS, Coleen. Williams Syndrome [Williams-Beuren Syndrome], disponível em <www.genereviews.com>, Data de acesso em 01 de julho de 2010. LEVITIN, Daniel; BELLUGI, Ursula. “Rhythm, Timbre, and Hyperacusis in Williams-Beuren Syndrome”, disponível em <http://www.psych.mcgill.ca/labs/levitin/cog_neuro.htm>; Data de acesso em 20 de abril de 2006. What is Williams Syndrome, disponível em <http://www.williams-syndrome.org>; Data de acesso em 16 de agosto de 2005. Diagnóstico da Síndrome de Williams, disponível em <http://www.swbrasil.org.br>; Data de acesso em 01 de março de 2005. Amídala Cerebelosa, disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%ADgdala_cerebelosa>, Data de acesso em 31 de julho de 2010 LEVITIN, D. “Musical Behavior in a Neurogenetic Developmental Disorder: Evidence from Williams Syndrome”, disponível em <http://www.psych.mcgill.ca/levitin.html/wms.html>; Data de acesso em 20 de abril de 2006.