Os primeiros momentos do Rafael Trespach na Escola Infantil Algodão Doce, Osório/RS
– Quando conversei com a mãezinha do Rafael Trespach, logo percebi que tinha uma tarefa grande pela frente e sabia que não era só a de trabalhar com ele e sim de aprender com ele, foi então, através de informações sobre o assunto (Williams), o que não foi fácil de achar. Coversei com a psicóloga da escola e das poucas experiências que me contaram e o pouco que achei para ler sobre o assunto percebi que podia e devia trabalhar com o Rafa como trabalho com os demais. Foi um pouco difícil no princípio pois ele não parava na sala e muito menos sentava para lanchar. Não conseguia se concentrar na mesma atividade pelo tempo esperado, mas com carinho, atenção e paciência, consegui gradativamente fazer com que ele passasse a realizar tarefas e atividades propostas individualmente ou em grupo.
Na área da linguagem me preocupava se ele se identificava como aluno da turma neste novo ambiente como os demais colegas, se reagia de maneira adequada frente aos “conflitos sociais”, quando ocorriam por parte dos colegas, se guardava seu material e se reconhecia ou não.
Na área motora, se eles experimentava situções de controle dos movimentos, coordenava braços e pernas, manuseava lápis de cera, etc.
Na área afetiva, se ele se relacionava com colegas e tias e se expressava aquilo que sentia e pensava.
Ficava pensando como seria o intedimento do Rafa em relação ao esquema de rotina estabelecido, assim como me preocupava com os demais. Descobri então que a chave de tudo foi lidar com o Rafa igual a todos os outros alunos, e a resposta dele foi positiva de forma tranquila, como a dos demais colegas.
Já havia trabalhado com crianças com “Down”, mas éra tudo novo, diferente e intrigante, posso dizer que nestes dez anos de profissão, foi uma das experiências que mais me ensinou o jeito doce, carinhoso, alegre e rítmico do Rafa me emocionou e me cativou.
Ao final do segundo semestre, período que o Rafa frequentou a sala de aula, quando passou de turma, me senti orgulhosa de ter conquistado o carinho, a atenção e o amor do Rafa, uma criança linda e com um futuro lindo pela frente e saber que fiz parte desta história de vida.
Andrea Audi-Professora da Escola Infantil Algodão Doce Duas Crianças com SW escola Nesta Foram atendidas. (Tia Andrea Foi a 1 ª professora do Rafael) Depoimento colhido em 2002 ==============
“- Rafael, nome de um anjo. Será que isto é uma coincidência? Ao me dar conta de que seria a “tia” do Rafa, fiquei muito apreensiva, pois até ali havia tido pouco contato com ele e me reservava a pensar:”-Que criança terrível! “Em nenhum momento pensei em tratá-lo de forma igual as outras crianças, porque cada criança tem que ser tratada com seus devido respeito, ritmo, costumes… não podemos tratar todos da mesma forma e nem ter preferências. PRIMEIRO DIA: Todos agitados, alegres, pulantes e Rafa também. Assim foram os primeiros dias. Tudo bem, temos a velha e boa adaptação… SEGUNDA SEMANA: Todos mais centrados e Rafa agitadíssimo; eu não parava um segundo de pegar as coisas que ele mexia, fazê-lo sentar, tentar prender sua atenção e a turma se aproveitando muito bem da minha insegurança, enquanto pensava como ele e eu devíanos nos comportar. Então a “ficha caiu”: Assim não podía continuar. Foi aí que pedi a ajuda das minhas colegas e da “tia” anterior dele, por quem Rafa tinha uma enorme paixão. Elas me aconselharam (e acho que deu certo), pesquisar sobre a Síndrome de Williams. E foi na Internet que descobrimos alguma coisa (característica fisicas e afetivas, características psicomotoras, etc.) Infelizmente há pouca literatura sobre SW.
Então decidi improvisar com as poucas informações que tinha. Notei que Rafa gostava muito de música. Então comecei a trabalhar mais com músicas e notei que ele se entusiasmava e participava mais das atividades. Enquanto isto acontecia, tudo estava se sintonizando; a turma havia “adotado”Rafa, todos o entendiam e o ajudavam no que era preciso, fazendo com que se sentisse parte da turma. Tudo foi muito rápido e posso até dizer…mágico. Quando me dei por conta, Rafa estava integrado. Gostava e participava de tudo, assumia responsabilidades e tinha limites, sabia o certo, entendia e atendia perfeitamente os pedidos da tia e prendia a atenção nas atividades, o que achei que seria difícil no início.Hoje percebo que quem aprendeu e aprende com as crianças somos nós, os adultos, como os sábios dizem.Rafa me faz aprender a desenvolver paciência, persistência, calma, muito carinho. E até me pergunto: Quem é que ensina? Quem é que aprende?.Me encontro mais no segundo grupo e, ás vezes, sento e observo minha turma brincando, discutindo, negociando, se entendendo e desentendendo e penso:”Que ótimo é estar perto.
“Qual a receita para “ensinar” e ajudar crianças que tem SW? Usar como eles, o coração, a afetividade, a alegria, a musicalidade, a sensibilidade, a esperteza (que têm agussadísima, pois Rafa sempre tenta “me passar a perna”e as vezes consegue!). Usando isso como um incentivo e não esquecer essas coisas boas pois assim, suas dificuldades (visuais, motoras) tornam-se pequenas.Afinal, passamos tanto tempo tentando sorrir e sermos mais afetivos e “eles”já nascem com este “dom”! Todos que tem SW podem crescer como qualquer indivíduo dito “normal” basta apenas apoio e amor da família, amigos e profissionais como nós…
Raquel Ferri – Professora da Escola Infantil Algodão Doce Relato dado em 2002